sexta-feira, 29 de junho de 2007

Poesia no Divã



Fotografia: Lu Oliveira, Andréa Motta e Gilberto Maha



Com licença, doutor Freud
Permita-me deitar em seu divã
Preciso indagar contigo
Preciso do seu ombro amigo
Falar sobre esta poesia vã.
Quero que decifre meu inconsciente
Que me deixe falar desesperadamente
Que analise minhas palavras
Versos, rimas, candura e raiva
E tudo que passa em minha mente.
Já conversei com Fernando Pessoa
Alberto Caeiro e Pablo Neruda
Morri de rir com Gregório de Mattos
Chorei com Augusto dos Anjos
Mas em nada essa sensação muda.
Pedi ajuda a Cecília Meireles
A Bandeira, a Drummond de Andrade
Achei versos no meio do caminho
O Claro Enigma tentei decifrar sozinho
Mas em todo lugar a poesia me invade.
Já fiz da palavra disfarce de coisa grave
Conforme dialoguei com Adélia Prado
Assim como eu Álvaro de Campos
Queria ser o que pensa e ser tantos
Que até me senti cavalo-alado
Em tempos modernos já viajei Gaivota
Claudia Gonçalves, Saldanha, França, Maha
Sobrevoei Bacca, Tarelho, Andréa Motta
Nadir Donófrio, Tadeu Paulo, Benvinda Palma
E neste vasto céu a poesia me amarra
Que me diz, doutor Freud?
Se a língua molda o inconsciente
Como afirma Lacan veemente
Que faço eu com minha alma poeta
que vive em mim tão intensamente?

Existe explicação para a Poesia?


Lu Oliveira
22/06/2007

sábado, 23 de junho de 2007

Visita


  • Cabo Espichel - Portugal.
    Fotografia de Andréa Motta
    Direitos Autorais reservados. Proibida a reprodução


Visita
Andréa Motta


Recebo-te de braços abertos
para que me possuas sobre
as rochas plantadas sob meus pés.
Vens assim, agitado espumante


verde-azul-branco-verde- branco
muito branco azul azul azul
pigmentas minh'alma e sentes
meu gosto de destino


Vens agora e
me levas às tuas areias profundas
onde minha pele confunde-se com a tua
sem inúteis explicações


Sem timidez
ou resistência
recebo-te nos meus sonhos
vens viver as minhas fantasias


Vens e me beijas
(os pés!)
as mãos
encharcas meus cabelos
ensopas-me, devoras-me


azul-branco-verde-azul
muito azul verde verde verde
envolves-me em tuas águas
festejando o encontro ritmado


Dos braços - toques
das pernas - abraços
da pele dos poros - arrepios
verde azul branco azul azul azul

Vens,
recebo-te em mim
mar mar atlântico!
meu mar..verde azul azul azul.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

É pra ti que escrevo





É p'ra ti que escrevo
Andréa Motta


Mote: Porque tu deixas em mim tanto de ti
Pedro Abrunhosa


É p'ra ti que escrevo, nesta manhã chuvosa
porque tu deixas em mim tanto de ti
me fazes sentir tua alma no balanço das folhas,
no vôo irrequieto das andorinhas


É p'ra ti que escrevo, no reflexo do espelho
pois é na inversão da imagem que teus dedos sorriem
porque tu deixas em mim tanto de ti
no silêncio das madrugadas.


Porque tu deixas em mim tanto de ti,
é p'ra ti que escrevo, por acreditar que além da mente
o corpo também voa, e cada passo deixa de ser
um sonho cruel no rastro de teus segredos.


Porque tu deixas em mim tanto de ti,
é p'ra ti que escrevo, para te dizer que aprendi
com este misto de saudade e ansiedade impregnada
na ausente presença delineada na janela embaçada.


É p'ra ti que escrevo, na fechadura do instante,
porque tu deixas em mim tanto de ti
na tua voz rebelde de poeta, no desejo apertado
de abraçar o vento e ancorar tua nau inquieta.


Porque tu deixas em mim tanto de ti, é p'ra ti que escrevo
para que saibas que no leito das tuas palavras
eu me deito e encontro sossego, seco meu pranto
e adormeço na saliva que do teu peito brota.


É p'ra ti que escrevo
para desvendar tua teia sagrada
para entender por que tu deixas em mim tanto de ti
porque teces a luz da manhã e preenches meu olhar vazio.

sábado, 9 de junho de 2007

Enigma



Enigma
Andréa Motta


Quem é esta sereia
que me habita a cada insônia
e com seu canto lamurioso
desvenda meu avesso?

quem é?

Esta mulher oculta
por longas madeixas
que me despe a pele
me deflora sem pânico

em querer ora cúmplice
ora cético
incendeia -me
viscera por viscera.

transformando-me num grande dilúvio
de desejos e medos.
Quem é?

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Noite




Noite
Andréa Motta


Anoitece em tons vibrantes
prenuncio de noite fria
e geada densa.

Sombras azul-róseo -amarelo-lilás
deambulam pelos vértices da anima
estancando o tempo - como se isto
fosse possível - fora dos sonhos...

Seus ponteiros em triangulação indócil
agasalham-se na sintonia afinada
de pernas e braços

encaixe perfeito
aquecendo versos não acabados..

domingo, 3 de junho de 2007

Irreverência




Irreverência
Andréa Motta

Na boleia do vento
do sul ele veio prematuro.
Inundou o verão
18.02.07

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Bordando Essências



Dentro de cada um há um jardim
cravos, rosas e camélias,
há sim.

mão e contramão
silêncios e algazarras
há sim

um jardim dentro de cada um
araucárias, ipês eucaliptos
uma selva povoada por querubins

há sim
segredos de passarinhos
cazuza, metralhadoras
delitos contravenções

in(quieta)ções
tantas imperfeições
há sim

indiferença saudade
intuição atrevimento
pelo sim e pelo não

há um jardim em cada um
Andréa Motta